quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

É proibido fotografar!


Qual o fotógrafo que nunca ouviu a frase: “não pode fotografar aqui”, que atire o primeiro click. São Paulo é a cidade do não pode fotografar por excelência. A frase sai da boca de seguranças, gerentes, diretores, do comércio, das residências, instituições públicas e privadas e até parques – sim, pasmem, eu disse parques!
Nas minhas andanças, coletei uma coleção de histórias que agora divido com os leitores. É verdade que eu sou meio briguento e meus relatos se avolumam um pouco demais da conta, mas mesmo assim, vale a crônica e a crítica. Ah, em tempo: proponho aos leitores, fotógrafos profissionais ou amantes do click que passem a adotar o adesivo “aqui pode fotografar a vontade”, e coloquem aonde forem bem recebidos.

Uma amiga (amiga até o dia que ela ler esta matéria) trabalhou durante anos na gerência de marketing de vários dos principais shoppings desta capital. Criativa e ousada, ela realizou campanhas memoráveis, e em várias oportunidades discutimos questões relativas à difusão da arte fotográfica nos espaços de shoppings centers. Um dia perguntei: Por quê é proibido fotografar no interior dos shoppings? … segundos de silêncio e… : “Porque abriríamos brechas para a espionagem entre lojistas, copiando-se vitrines e outras idéias”. Pasmem denovo, foi isto mesmo que ouvi, nós fotógrafos transformados em poderosos espiões. Alguns meses mais tarde, em outro encontro de trabalho, ela me mostrou orgulhosa as fotos que havia feito de um evento, dentro de um shopping de Miami, de onde pretendia buscar inspiração!!

Durante a realização do Foto São Paulo, em setembro de 2001, evento onde reunimos quase três mil fotógrafos entre amadores e profissionais, fomos atrás de autorizações nos lugares onde costumeiramente é proibido fotografar, entre eles o Metrô que simplesmente autorizou. Ou seja, se pedir pode, se for com a benção do chefe pode! Mas, ser for sem a autorização a foto é diferente? Nem no Metrô de Moscou na ainda União Soviética fui interpelado por seguranças por estar fotografando, mas aqui no Brasil não pode. Bom… o mais curioso mesmo foi o fato de que nas dependências da Sala São Paulo e do Memorial da América Latina, ambos espaços sobre a custódia da Secretaria de Estado da Cultura, patrocinador do evento, não se podia fotografar. Por quê? Nunca ninguém soube responder. Estava armado o bafafá: rádio pra cá, rádio pra lá, telefonemas… até que foi feita uma autorização especial para que os participantes pudessem fotografar.

Numa outra e divertida situação, eu estava fotografando uma senhora alemã, especialista em adaptar a vida de executivos alemães à cidade de São Paulo. Escolhi como fundo para os retratos, os edifícios do World Trade Center, na avenida Nações Unidas, marginal pinheiros. Mal comecei os cliques, veio o primeiro segurança com sua motinho, alertar que era proibido fotografar ali. Nos afastamos do prédio em direção à calçada e lá continuei meu trabalho, então o segurança voltou reafirmando a proibição. Eu aleguei que estava na rua, e que a constituição brasileira em nada alertava sobre fotógrafos na rua serem proibidos de mirar os prédios de sua cidade (acreditei que alegar a constituição seria método infalível). Que nada! O homem se enfureceu e começou aquela transferência de códigos e palavras soltas pelo rádio: ’Q.A.P.’ indivíduo no setor norte, fotografa torre sul, alerta às unidades”. Pronto! Em alguns minutos, estavamos diante de um pelotão de seguranças e gerentes de segurança. Novamente expliquei que estava apenas retratando a senhora – a alemã que nestas alturas do campeonato tinha virado minha defensora e de todos os fotógrafos. Aleguei inocência de todo tipo, mas não adiantou; eles se colocaram diante da câmera até que eu parasse meu trabalho. Quase chamei a polícia para me defender.

Sempre que me acontece algo semelhante, falo com outros fotógrafos para ouvir suas opiniões. A do Juan Esteves foi a melhor até agora: ele disse que quando ocorre algo similar, já vai tirando nomes de gerentes “falem com o dr. Dantas do marketing corporativo internacional que ele já está sabendo de tudo; rápido chamem o dr. Dantas!”, até descobrirem que não existe o dr. Dantas, já era! O clique em fuga já estava feito.

Acredito que é hora de discutirmos as questões relativas ao direito de imagem, não podemos esperar que as definições legais e culturais a respeito do que pode ou não sejam tomadas sem nossa participação.

O que será? Um resquício da ditadura, onde todos tinham algo a esconder ou será o medo? Será? Ou apenas uma moda que pegou e todos, sem saber porque, a imitam: é proibido fotografar e pronto! Está na hora de prestar atenção nestas questões. Se não, em breve estaremos proibidos de contar nossa própria história.

link sugerido por eduardo Muylaert http://www.strictlynophotography.com/

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sobre saber muito e charlatões na era Google


Todos sabemos muito nos dias de hoje, somos sabidões da era internet. Como nos tempos da rádio relógio ou do Readers Diggest somos donos de informações inúteis aos borbotões. Nossos cronistas de hoje devem, em pânico, recorrer ao Google com medo de seus textos serem considerados plágios. Conversas de botequim são regadas a entradas no Google via Black Berry ou outro tipo de navegador portátil que, via Google, acabam caindo na nefasta Wikipédia, onde para tudo há um palpite embasado em milhares de internautas: de como nascem as borboletas ao temível aquecimento solar, as respostas estão lá. Charlatões podem ser desmascarados em segundos numa mesa de bar, mitômanos inveterados devem redobrar cuidados sob pena de passar um vexame automático, palpites sobre o glutamato monossódico, a reprodução da lula e o ponto de cozimento do polvo não mais irão impressionar gourmets, que num piscar de olhos poderão acessar via browser de bolso, sua página de dicas na internet: o Google! Esta é a verdadeira ditadura da verdade! No more charlatões! Do pântano enganoso das bocas para a galáxia asséptica dos programas de buscas! Viva a modernidade!